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Shauane Fonseca

Queda histórica do petróleo prejudica finanças da América Latina em plena pandemia


Bomba de extração em um campo de petróleo de Cotulla (Texas)
Bomba de extração em um campo de petróleo de Cotulla (Texas), em 12 de março de 2019 - Foto: AFP/Arquivos

Uma queda histórica da petróleo, com preços que nesta semana alcançaram o terreno negativo, torna nebuloso o horizonte de países latino-americanos dependentes da renda do hidrocarboneto, em meio à pandemia de COVID-19 que demanda vultosos investimentos públicos na tentativa de atenuar a paralisação econômica.


A queda da demanda mundial propiciada pela pandemia afundou na última segunda-feira o preço do barril de referência WTI para entrega em maio nos Estados Unidos a -37,63 dólares, o que significa que os donos de contratos pagaram para encontrar compradores para o petróleo físico.


Países como Venezuela, Equador ou México, já pressionados pela expectativa de retração econômica, terão que se adaptar a uma queda acentuada das rendas petrolíferas, que podem ser ficar abaixo de seus cálculos pré-estimados, em um momento em que os recursos são mais urgentes.


“Com o petróleo em baixa, se reduz a margem de manobra” para atuar contra a pandemia, diz Andrés Abadía, economista da consultora Pantheon Macroeconomics.


A Venezuela, país mais dependente do petróleo, será de longe a mais atingida, dado o estado calamitoso que sua economia já atravessava.


Mesmo com os custos de produção de petróleo relativamente baixos, em torno de 15 dólares o barril, os preços atuais “vão ser um golpe na indústria convalescente”, afirma Abadía.


O FMI indicou na semana passada um recuo de 15% para economia venezolana em 2020.


Para o Equador, onde a pandemia atinge níveis trágicos, a queda de precos representa um “golpe duríssimo”, segundo o presidente Lenín Moreno.


O petróleo é o principal produto de exportação do país cuja dívida externa ultrapassa 65 bilhões de dólares, mais de 50% do PIB nacional, e que adiou em março seu pagamento as credores e ao FMI, que previu que o PIB equatoriano cairá 6,3% neste ano.

– Pemex, calcanhar de Aquiles do México –


No México, a segunda maior economia da região, mais diversificada e solvente que a Venezuela ou o Equador, a principal vulnerabilidade tem nome próprio: Petróleos Mexicanos (Pemex).


O colapso dos preços atinge em cheio a empresa estatal, cuja dívida excede 100 bilhões de dólares, enquanto luta para reviver sua produção, que caiu pela metade em relação a 2004.


O governo de Andrés Manuel López Obrador congelou a abertura do setor ao investimento privado, iniciado em 2013, reduzindo novas opções de capital para a Pemex.


Seu estresse financeiro foi exposto na semana passada, quando as agências de classificação de risco Fitch e Moody’s reduziram sua dívida para um grau especulativo, depois que o rating de crédito do México também foi reduzido pelas duas agências, além da S&P, antecipando o impacto da COVID-19.


As exportações de petróleo representam cerca de 18% da receita orçamentária do México, que terá suas contas ainda mais pressionadas pela queda da receita tributária devido à contração econômica.


O governo espera uma queda no PIB de até 4% este ano, mas analistas privados apontam quedas de até 9%.


– “O problema número um” da Colômbia –


Na Colômbia, quando a crise da saúde se dissipar, o petróleo se tornará “o problema número um no país”, na opinião do ex-ministro das Finanças Mauricio Cárdenas (2012-2018).


O golpe no orçamento, que contava com um barril a US$ 60,50 e onde a renda do petróleo representava 9,3% da receita de 2019, será sentida no ano que vem, quando as empresas do setor pagarem os impostos deste fatídico 2020.


Para Francisco José Lloreda, presidente da Associação Colombiana de Petróleo, o país precisa de “um Brent entre 40 e 45 dólares” para que o negócio seja lucrativo e o investimento em exploração e produção não diminua. Cerca de 50.000 pessoas dependem desse setor na Colômbia, de acordo com o especialista.


No Brasil, a maior economia da América Latina, o orçamento para 2020 foi preparado com uma expectativa de um barril de Brent a US$ 58,96. As consequências da queda de preços são diversas.


As previsões são de que o impacto nas receitas tributárias será brutal, não apenas pela queda dos impostos, mas também pela suspensão dos leilões de campos de hidrocarbonetos programados para este ano e pelos royalties que os estados produtores não receberão mais, começando pelo Rio de Janeiro.


As ações da Petrobras caíram quase 50% este ano

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