Médicos do Instituto de Infectologia Emílio Ribas já têm de escolher, mesmo que "indiretamente", qual paciente irá ou não para um leito de UTI para o tratamento da covid-19. A afirmação foi feita hoje por Jaques Sztajnbok, médico supervisor da UTI do Emílio Ribas, em entrevista à GloboNews.
Sztajnbok explicou que o hospital, referência no tratamento de doenças infectocontagiosas em São Paulo, tem hoje 30 leitos de UTI -todos ocupados. Um novo paciente, portanto, só pode ser admitido quando um leito fica vago, seja por alta ou por óbito de outra pessoa.
"Quando eu tenho zero vagas e olho [no sistema] que há seis solicitações para uma vaga, a situação já se delineia. Quando aparece uma vaga e essas mesmas 6 solicitações continuam lá, essa escolha acaba sendo indiretamente efetivada. Mesmo sem a dramaticidade de estar com os dois pacientes na minha frente, com um único aparelho", disse Sztajnbok.
O médico disse ainda que não é possível responder "objetivamente" se estamos no pico de casos do coronavírus no país ou se ainda caminhamos para esse cenário porque "não se sabe qual é o comportamento dinâmico dessa epidemia".
"O que a gente sabe é que já estamos lotados. Então, se não estivermos no pico ainda, é bom que as autoridades corram, porque em algum lugar nós vamos ter que internar esses pacientes", afirmou.
Sztajnbok disse ainda que o tempo necessário de internação para pacientes que apresentam um quadro grave da covid-19, que pode variar de duas a quatro semanas, é outro fator preocupante.
Segundo ele, há casos em que os pacientes precisam de diálise, e não apenas de ventilação mecânica.
"É uma situação muito complexa sobre a qual estamos aprendendo no curso do enfrentamento e que demanda equipes bem treinadas e preparadas", afirmou, destacando a importância dos profissionais de enfermagem e fisioterapia além da equipe médica.
São Paulo é o estado com mais casos de covid-19 no país. Até ontem, foram registrados 14.580 casos e 1.037 mortes pela doença em todo o estado. Além do estado paulista, Rio Grande do Sul e Amapá já registram uma ocupação acima de 50% dos leitos de UTI destinados ao tratamento da covid-19.
A situação nos estados de Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco é ainda mais preocupante. Neles, a taxa de ocupação desses leitos está acima de 90%.
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